Ó felicíssimo
Patriarca, glorioso São José, que fostes escolhidos para o cargo de pai adotivo
do verbo humanado, a dor que sentistes ao ver nascer em tanta pobreza o Deus
Menino se vos trocou em celestial júbilo ao escutardes a angélica harmonia e ao
verdes a glória daquela brilhantíssima noite.
Por esta vossa dor e
por esta vossa alegria, obtendo-nos a graça de nos alcançardes que, depois
desta vida, passemos a ouvir os angélicos louvores e a gozar os resplendores da
glória celeste.
Dores e Alegrias de São José - 2ª Dor e
Alegria: O Nascimento de Jesus
O CONTEXTO:
o Filho de Deus nasce num ambiente pobre e acolhedor.
O evangelista Lucas narra que César Augusto ordenou um recenseamento para todo o seu império. Ele queria conhecer todo o seu potencial em termos de população e riquezas. José e Maria, pertencendo à casa de Davi, deviam apresentar-se em Belém. Maria aproximava-se do fim da sua gestação. A viagem, difícil e cansativa, era uma caminhada de quase 140 Km: Belém ficava nos arredores de Jerusalém. Não encontrando lugar na hospedaria, José, homem prático, buscou fora da cidade uma gruta, que servia para abrigar animais, um lugar rústico e silencioso, quase com certeza uma estrebaria. Foi ali que Maria deu à luz o Filho de Deus.
A pobreza do local do nascimento é contrastante com o ambiente acolhedor criado por José e Maria. O Menino Deus nasce pobre, mas é recebido pelo Santo Casal com tanto amor e carinho que o calor do amor de seus pais compensa, em muito, a singeleza do local.
Na Exortação Apostólica Redemptoris Custos – São José, o Guarda do Redentor – o Papa São João Paulo II lembra que José e Maria foram “testemunhas privilegiadas” da vinda do Filho de Deus ao mundo: testemunhas do despojamento e da sua glorificação, incluindo a adoração dos Pastores e a veneração dos Magos:
José foi testemunha
ocular deste nascimento, que se verificou em
condições humanamente humilhantes, primeiro anúncio daquele «despojamento», no
qual Cristo consentiu livremente, para a remissão dos pecados. Na mesma
ocasião, José foi testemunha
da adoração dos pastores, que acorreram ao lugar onde Jesus nascera, depois
de um anjo lhes ter levado esta grande e jubilosa notícia (cf. Lc 2, 15-16); mais tarde, foi testemunha também da homenagem dos
Magos, vindos do Oriente (cf. Mt 2, 11).
A
EXPERIÊNCIA DE JOSÉ...
Podemos imaginar a amargura e a dor de José ao ver Jesus nascer naquelas condições de extrema pobreza. Mas, ao mesmo tempo, podemos imaginar a sua consolação ao ver cumpridas as profecias messiânicas. Deus havia escolhido o que é pequeno, Maria, José e Belém, para dar ao mundo o Salvador.
José podia, assim,
contemplar o Messias germinando em seu lar e ter em suas mãos a riqueza do
mundo. Cumpria-se desse modo, a promessa já antes proclamada com vigor por
Isaías: “Um menino nos nasceu, um filho nos foi dado, e a soberania repousa
sobre seus ombros: será chamado Admirável, Conselheiro, Deus forte, Pai eterno,
Príncipe da paz” (Is9,6). José tinha sido escolhido para herdar a Promessa.
CONTINUA NOS DIAS DE HOJE...
A experiência de José e Maria espelha realisticamente a vida de tantas famílias, marcadas pelo abandono e aflitas pela falta de moradia, trabalho e pão. O que José sentiu, como chefe de família, hoje muitos pais sentem, obrigados a criar seus filhos nas “grutas” modernas que sãos as favelas. A alegria pela vinda de um filho mistura-se à incerteza quanto ao seu futuro. Para tantos “Josés” de hoje, a “angélica harmonia” será a fé e a luta pelo advento do Reino da paz, na caminhada até a Belém definitiva.
A experiência de José e
Maria espelha também a realidade, e a alegria, dos que percebem que a presença
de Jesus entre nós é a grande novidade vinda da parte de Deus: o Evangelho, a
Boa Notícia tão esperada pela humanidade é uma pessoa, Jesus, o Deus Conosco.
E, se Ele está em nosso meio, a singeleza de um casebre e a luxuosidade de um
palácio adquirem igual valor, ou seja, o que realmente conta não é
grandiosidade do ambiente, mas das pessoas que estão dentro dele.
O Papa Francisco, em
seu estilo claro de didático, também nos aponta uma clara relação entre a
experiência do Santo Casal, por ocasião do nascimento de Jesus, e a experiência
das famílias de hoje. Vejamos:
O Menino
Jesus, nascido em Belém, é o sinal dado por Deus a quem
esperava a salvação, e permanece para sempre o sinal da ternura de Deus e da
sua presença no mundo. Também hoje as crianças são um sinal. Sinal
de esperança, sinal de vida, mas também sinal de «diagnóstico» para
compreender o estado de saúde duma família, duma sociedade, do mundo inteiro.
Quando as crianças são acolhidas, amadas, protegidas, tuteladas, a família é
sadia, a sociedade melhora, o mundo é mais humano.
E NOS CONVIDA A CUIDARMOS DOS INTERESSES DE
JESUS.
Para que possamos, a exemplo dos Santos Esposos, preparar um ambiente acolhedor para nossos filhos e para todas as crianças, ouçamos as exortações do Papa Francisco:
Deus repete
também a nós, homens e mulheres do século XXI... O Menino de Belém é frágil,
como todos os recém-nascidos. Não sabe falar e, no entanto, é a Palavra que Se
fez carne e veio para mudar o coração e a vida dos homens. Aquele Menino, como
qualquer criança, é frágil e precisa de ser ajudado e protegido. Também hoje as
crianças precisam de ser acolhidas e defendidas, desde o ventre materno...
E interrogamo-nos: Quem somos nós diante de Jesus Menino? Quem somos nós diante das crianças de hoje? Somos como Maria e José que acolhem Jesus e cuidam d’Ele com amor maternal e paternal? Ou somos como Herodes, que quer eliminá-Lo? Somos como os pastores, que se apressam a adorá-Lo prostrando-se diante d’Ele e oferecendo-Lhe os seus presentes humildes? Ou então ficamos indiferentes? Por acaso limitamo-nos à retórica e ao pietismo, sendo pessoas que exploram as imagens das crianças pobres para fins de lucro? Somos capazes de permanecer junto delas, de «perder tempo» com elas? Sabemos ouvi-las, defendê-las, rezar por elas e com elas? Ou negligenciamo-las, preferindo ocupar-nos dos nossos interesses?
O Menino
Jesus nasceu em Belém, cada criança que nasce e cresce em qualquer parte do
mundo é sinal de diagnóstico, que nos permite verificar o estado de saúde da
nossa família, da nossa comunidade, da nossa nação. Deste diagnóstico franco e
honesto, pode brotar um novo estilo de vida, onde as relações deixem de ser de
conflito, de opressão, de consumismo, para serem relações de fraternidade, de
perdão e reconciliação, de partilha e de amor.